Thursday, August 11, 2005

Do amor





Aguarela
credits: Julio Resende

Do amor

Um outro toca em partículas da alma e nos percorre, divinamente, em espaços e afectos indecifráveis, fazendo-nos sobreviver aos momentos mais tenazes de sofrimentos e devastação.

Íntimos anseios, 
dádiva de sentires, 
carícias de espuma, 
búzios de ternura 
nos fazem partilhar uma vida 
que sonhámos, mesmo antes 
do início do Universo.


Miosótis (pseudónimo)

texto original, 11.08.2005


Presídio

Nem todo o corpo é carne... Não, nem todo.
Que dizer do pescoço, às vezes mármore,
às vezes linho, lago, tronco de árvore,
nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco...?

E o ventre, inconsciente como o lodo?...
E o morno gradeamento dos teus braços?
Não, meu amor... Nem todo o corpo é carne:
é também água, terra, vento, fogo...

É sobretudo sombra à despedida;
onda de pedra em cada reencontro;
no parque da memória o fugidio

vulto da Primavera em pleno Outono...
Nem só de carne é feito este presídio,
pois no teu corpo existe o mundo todo!


David Mourão-Ferreira, Variações sobre um Corpo, 
Colecção duas de leitura, Editorial Inova, Porto, 1ª edição

Miosótis (pseudónimo)

fragmentos da noite com flores

08.11.2005
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