Saturday, October 15, 2011

Noite na paisagem




Nick UT | AP 2010
 

Penso no inverno a estação que ocupa
o centro do espírito. Nas árvores mais altas
que o outono despiu.
(...)
 
Nuno Júdice, Outono
 
 
Poderia ser o poema que descreveria o outono! Essa estação em que as sensações de finito se abeiram de nós e se entranham, mesmo que as queiramos distanciar. 

Mas não ! O outono transmutou-se em estio quente, noites tentadoras, roupas frescas, cores claras, cabelos que se soltam por entre os dedos, como que desfolhando doces paisagens.

Mas não podemos fingir que ele, o outono não está aí. Sente-se no aroma das brisas, nos tonalidades fragmentadas de sensações quentes, na luz quase efémera que se espraia sobre o mar, no canto dos pássaros que resiste alegre ainda. 

Os pássaros batem as asas, airosos, contra os ramos de onde pendem ainda as folhas e alguns frutos confusos.

Vejo a luz do sol escorrer pelos dias cálidos, adiando um pouco mais aquela tristeza que o outono traz.

Um após um, vou fruindo dos dias. Outra após outra, as noites deixam-no para trás.

Uma brisa suave atravessa esta mesa de trabalho, pejada de livros, papéis, e alguns sonhos poisados por entre livros nas estantes que a rodeiam. E fujo ao sono.

O silêncio há muito desceu sobre a cidade. A hora exala tranquilidade. Da minha janela, nas imagens que atravessam o tempo, eu deixo o pensamento transportar-me para o novo dia de sol que se vai desenhando. 

As árvores, sem chuva , anunciam-me que posso adiar, por mais algum tempo, a angústia do outono.

Miosótis (pseudónimo)
 
fragmentos da noite com flores 

15.10.2011
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